Olha só eu te esperando há 5 meses! |
Começo dizendo que escolher te deixar nascer não foi fácil. Hoje, aos 6 meses de vida intra-uterina (27 semanas, pra ser específica), você já é completamente querida, mas te digo que não foi sempre assim...
Primeiro de tudo: eu sou muito nova. Tá certo, com 25 anos não se é mais adolescente!, mas no meu caso, sem um diploma, um emprego e um plano concreto de vida, sim, posso dizer que estava nova demais pra sequer pensar nisso! Segundo, pesou o fato de que eu nunca curti a ideia de ter filhes. Achava que, pra isso, era necessária uma auto-anulação que eu não acreditava estar disposta a pagar e, além disso, tenho medo de crianças - sim, ainda tenho, mas, agora vendo de um diferente ângulo, com você eu poderei expor meus limites, te explicar o que acho que deve ser explicado e tudo isso sem medo de uma repressão de autoridade, entende?! Agora a cria será minha! E quanto à parte da auto-anulação, isso ainda é algo que me apavora, mas a imagem do seu rostinho sorridente costuma me acalmar um bocado quando a coisa aperta.
Tá, e quando foi que esse medo se tornou menor do que a vontade de te ter?
Não sei dizer exatamente... só sei que foi menos de duas semanas após saber da sua existência.
O lance é que eu já estava bem confusa por conta de outros fatores naquela época. Tinha acabado de terminar um namoro de uma forma horrorosa com um cara que eu infelizmente amava muito (seu pai), e foi simplesmente devastador. Foi, não, ainda está sendo. Sei que isso não faz nada bem pra sua saúde, mas a verdade é que essa decepção amorosa me deixou destruída! Estou tendo que lidar com uma vida inteira de medo do abandono, do descaso, de deslealdade...

Viramos a noite nesse papo e decidimos que faríamos logo o de sangue, mas como eu tenho pânico de veia, acabei enrolando por alguns dias e não fui fazer o bendito. Só na quarta-feira da semana seguinte que tomei forças, mas foi da pior forma possível: depois de uma deprimente briga com o dito-cujo. Sozinha e arrasada comprei um teste de farmácia.

O bonitinho não atendia as minhas ligações e o jeito era fazer o exame de sangue acompanhada da minha mãe mesmo. O resultado sairia algumas horas depois. Já lá pelas 21h, eis que a belezura me liga e resolve conversar comigo de novo. Ele queria ver o resultado, mas como eu só poderia pegá-lo pela internet e ele não tinha acesso na casa dele, o trouxe pra cá e vimos juntos. Positivíssimo.
Provavelmente levados pela emoção do momento, decidimos naquela hora que deveríamos ficar juntos e resolver o que seria feito. Ele claramente queria o aborto, mas na minha cabeça a coisa estava mais confusa do que nunca. Não estava preparada pra ser mãe, menos ainda pra abrir mão da nova vida que me era apresentada. Foi naquela noite de quinta que me veio pela primeira vez à cabeça a sua risada.
Os dias foram passando, os problemas de relacionamento com o tal foram nos sufocando, o pavor da responsabilidade foi me tirando o sono, mas ainda assim eu me sentia cada vez mais propensa a escolher por você, mesmo percebendo que teria que lidar com isso sozinha (ok, nem tão sozinha, pois dona Carmen fez questão de mostrar que estaria ao meu lado o tempo todo). E então foi dito e feito, quando decidi de vez que você ficaria, contei pra ele, que depois de mais uma discussão foi embora. Naquela mesma noite toquei minha barriga e finalmente me senti acompanhada.

Peço desculpas por tantos momentos que nos expus à dor, mas entenda que ainda estou no processo de virar duas. Sei que nessa jornada já fiz escolhas ruins, e te dou certeza que farei muito mais pelos próximos anos, mas saiba que, por mais que algumas dúvidas ainda me tomem, a certeza que te quero bem não me deixa nem por um segundo!
Com amor,
Mamãe.