segunda-feira, 27 de maio de 2013

Sobre dor e liberdade

Um dos ensinamentos importantes que quero te passar nessa vida: a dor é necessária. Isso pode parecer estranho, afinal, seja por questões naturais ou socialmente ensinadas, vivemos evitando a dor.
De acordo com alguns filósofos, inclusive, vivemos basicamente considerando experiências que passamos pra, utilitariamente, evitarmos essas sensações ruins, maximizando assim o que chamam de prazer. Não sei se concordo com essa visão tão calculista, mas enfim, posso afirmar que grande parte da minha existência é sentida com base nessa dicotomia.

Independente do que se aprende na academia, a vida - a minha, pra ser mais precisa - ensina coisas um pouco mais complexas, e tentar interpretar as sensações transcendendo tais postulados é algo que eu, pessoalmente, busco. E em uma dessas "pensâncias", chego a conclusão (óbvia?) de que nada nos leva mais à dor do que a fuga dela. Então volto um pouco no tempo pra tentar expor aqui de onde e pra onde vai essa ideia:

Começo com as dores de parir. Antes de sonhar em ficar grávida (ou seja, até praticamente o dia que vi aqueles dois tracinhos no teste de gravidez), acreditava que as mulheres, com essas opções modernas da medicina, poderiam - e deviam - evitar a tal dor do parto. Não tinha informação alguma sobre o processo, claro, e me parecia "natural" evitar algo ruim, caso seja possível.
Com o adendo final - "caso seja possível" - a frase está corretíssima. Não há porquê sentir dor caso exista a possibilidade real de não senti-la. O grande porém é que, na maioria das vezes, essa possibilidade é só ilusória! Ao evitar as dores do parto, como foi esse meu exemplo, você escolhe por adiar essa dor para um pós-cirúrgico longo, além de expor você e o bebê em questão a riscos (de outras dores, de problemas de saúde e, de acordo com alguns estudos, até de danos psicológicos à parturiente e ao "ex-fetinho"). Ou seja, não existe uma forma real de se evitar a dor nesse caso, e sim uma escolha entre qual tipo de dor você irá sentir. Por conta das informações que me foram passadas, pude escolher o que acretido ter sido o melhor: uma dor física momentânea acompanhada de hormônios que "compensam" isso, enviando estímulos de prazer. Aprendi naquele dia que meu corpo é capaz de uma intensidade absurda, tanto pro mal quanto pro bem estar! E pode soar clichê (você perceberá que mamãe aqui é toda clichezenta), mas toda a minha concepção de dor/prazer, bom/ruim e tal foi renovada e tudo por sua causa!

E saindo do exemplo que eu dei, pude ir muito além. Então, a partir disso, palavra LIBERDADE foi redefinida ali. Não existe uma liberdade que te exime de sentir dor. A liberdade é de escolha, dadas as situação externas e fora do seu controle, baseando-se nas informações e experiências que se teve ao longo da vida. Dada a gravidade, não existe a liberdade de não cair, mas sim de como cair: se antecipando e preparando algo macio pra cair em cima; aprendendo que, pra não machucar os ombros, se deve encolher os braços e rolar na hora da queda, etc.

Mas entenda: aceitar a dor não é se conformar a ela! Existem coisas que estão fora do nosso alcance, o que não significa que não temos a escolha de procurar - e lutar por! - algo melhor. Em vários momentos isso ficará confuso (e ainda não descobri se "desfica" algum dia), mas ter em mente que evitar a dor não é fugir dela a todo custo pode tirar do seu caminho várias pedras maiores. Compreenda que as escolhas feitas no passado foram as escolhas que você fez e ponto; não adianta pensar no que poderia ser diferente, em como você poderia ter notado isso ou aquilo. Muitas vezes escolhemos as trilhas que parecem menos dolorosas - por falta de informação ou não - e no futuro descobrimos um preço altíssimo a ser pago por conta delas. Mas se culpar nunca trará uma resolução! Levante-se, responsabilize-se (somente pelo que foi deliberado por você) e aprenda novas formas de lidar. Elas sempre existirão, só depende de você descobri-las.

Não sei quando você estará apta a absorver esse ensinamento. Nem mesmo se ele será tão válido na sua vida quando é na minha. Mas espero que sim. Espero que você não só decodifique o que te passo nessas reflexões, como adicione suas coisas e me ensine mais e mais.

E fique agora com as fotos deliciosas que tirei quando você interagiu pela primeira vez com o Pitágoras:





Amor.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Risadas matinais

Bom dia!

Há algumas semanas acordo todos os dias com você sorrindo pra mim. Não sei exatamente quando os espasmos labiais se tornaram demonstração de afeto, mas já é claro que suas risadas são de alegria. Alegria ao me ver, alegria ao notar que minhas tetas estão lá, cheias e à sua disposição, alegria ao conversar usando só vogais e me ver respondendo com palavras e caretas, alegria ao ouvir as musiquinhas ridículas que inventei pra você, alegria por saber que euzinha aqui, te segurando pela barriga ou às vezes só apoiando suas mãozinhas, proporcionarei a você a deliciosa experiência de ficar em pé - que, pela sua satisfação, parece mais uma ida à Lua ou coisa assim.

Se antes eu curtia dormir até tarde, aproveitando a preguiça pra ficar deitada no escurinho até meio-dia, desde a sua chegada confesso que esse estilo de vida perdeu o sentido. São os seus primeiros gemidinhos matinais pedindo por leite e pá, lá estou eu, prontíssima pra mais um dia de cócegas, cantorias, blábláblás e risadas.

Ah, suas risadas! Treinei mentalmente como seria te ver sorrindo. Imaginava que poderia ser algo  maravilhoso. Agora já não tenho palavras cabíveis pra descrever o que sinto... o que é melhor do que maravilhoso? Estupendo? Magnífico? Alguma coisa por aí!
Essa coisa que me faz despertar e sonhar ao mesmo tempo. Algo que me mata de tanto querer viver. Isso que me tornou o que eu jamais tinha previsto: uma pessoa feliz.
Não que você seja responsável pela mulher que eu sou, mas agradeço todos os dias pelo aprendizado sobre mim mesma. E sobre você, cada dia mais gente, cada dia mais linda, mais Ananda, toda você mesma. Cada dia mais sorriso, me lembrando como é bom rir pela manhã!

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

C.H.E.G.O.U C.H.E.G.A.N.D.O



Chegou. Chegou chegando chegadoramente... E simplesmente AHAZOU, minha filha!

Le gatínea

Sabe, no dia 9 de dezembro fiz o post “nove meses”, pois finalmente me sentia totalmente preparada pra te receber. Foram realmente muitas mudanças, algumas bruscas, outras suaves, mas sempre positivas. Minha mente já estava em paz e eu sabia que faria de mim mesma a melhor coisa possível pra você.
Mas antes de contar a sua linda chegada chegadícia, vou voltar um pouquinho no tempo, falando sobre quando eu comecei a preparação do “como” você viria:
No início estava completamente perdida, mas por muita sorte, logo me indicaram uma doula (a linda Arix ganha créditos aqui), e a partir daí meu mundo se abriu! Eu estava com apenas 20 semanas de gestação quando marquei um encontro na pizzaria com a Aláya. De cara nos entendemos e ela já foi me explicando parte do longo processo “saia da matrix obstétrica”.

E então você se pergunta: “como assim matrix?”. Pra minha desalegria, Ananda, vivemos num país que simplesmente esqueceu – ou preferiu deixar de lado – o fato de que o parto é um momento da mulher e do bebê.  A maioria dos nossos médicos obstetras tenta nos convencer, infelizmente com bastante sucesso, de que nós, fêmeas humanas, não temos mais a capacidade de parir, de que somos fracas. Por conta de um sistema machista e capitalista, nos tiraram o direito à informação, e quando ainda assim ela vem - graças aos lindos trabalhos que doulas, parteiras e alguns poucos médicos humanizados fazem -, esses outros profissionais nada legais tentam minar a nossa autoconfiança, nos chamando de irresponsáveis e sonhadoras por simplesmente querermos deixar o nosso corpo funcionar naturalmente.

Logo que descobri que estava grávida, marquei uma consulta com a minha ginecologista de sempre. Durante a minha adolescência, ela era um doce comigo, mas com o tempo fui notando que a nossa “incompatibilidade ideológica” estava deixando a nossa comunicação meio truncada. Ao saber do meu quadro de depressão, ela não só me disse que isso era *falta de deus*, como tentou culpar a minha não crença nele por tanto sofrimento. Quando o assunto foi gestação, as coisas só pioraram! Apesar de eu estar com 25 anos na época, ela deixava claro o seu espanto por eu não ser casada, e eu sentia em seu discurso uma tentativa de te tratar como punição pros meus atos libidinosos.
Minha última consulta com ela foi marcada com muita indignação:
- Estou lendo a respeito de parto natural e acho que quero isso.
- E o que você acha que é parto natural, criança? (Ela me chamava assim... o que me irritava um bocado)
- Bom, seria um parto sem intervenções.
- Ah, você está falando daquela coisa anti-higiênica de parto na água e etc?
- ... Sim, e sem medicamentos, com doula, no momento que o bebê quiser vir e tal. Pensei na Casa de Parto.
- Não acho que seja uma boa ideia! Lá não tem médicos! E essa coisa de banheira, você por acaso sabia que sai cocô nessa hora? É muito risco pra você e pro bebê!
- Ainda assim quero tentar! (Mamãe aqui já tinha lido o suficiente pra saber que essa coisa de “anti-higiênico” não fazia o MENOR sentido!)
- Menina, deixa de ser irresponsável! Não vou participar disso! Você não sabe o que está dizendo!
- ...
- O que você quer que eu faça então? Não tenho função alguma aqui, né?!
- Bem, planejava continuar com o pré-natal. Acho importante saber como vai a saúde do meu bebê, oras!
- Ah, sim, claro... Pura imaturidade da sua parte, mas fazer o quê, né?! Já vi que não vou te convencer!
E foi com essa linda discussão que, graçazadels, resolvi que não pisaria mais lá!

Depois disso resolvi arriscar o tão temido SUS. Cheguei cheia de receios, mas tirando a parte das enfermeiras cristãs (que falavam barbaridades sobre como as mulheres deveriam se comportar diante dos seus maridos e coisas bobas do tipo), foi tudo uma maravilha! Marquei consulta com a dra. Simone, e essa médica foi APENAS incrível! De cara já sanou minhas intermináveis dúvidas, ao saber dos meus planos de parto, apoiou com afinco... Ou seja, tudo que eu queria e precisava e mais um pouco! O problema: ela não teria como fazer meu parto, já que só trabalhava na rede pública e por isso não estaria disponível quando você resolvesse nascer.

última semaninha de prenhice
Nessa época eu já frequentava o grupo de gestantes do HUB, e lá ouvia várias dicas ótimas de partos humanizados, além de exercícios pra gestantes, coisas sobre amamentação e etc. Foi fácil então decidir que eu precisava me empoderar, fazer tudo do nosso jeitinho...

As semanas foram passando e eu, cada dia mais segura. A Casa de Parto já tinha se transformado no plano A e nem uma hidronefrose me fez desistir disso! Mesmo com todo o caos mental que me engolia, pude notar que tinha muita gente delícia ao meu lado, e isso, principalmente no fim da gravidez, me fez ter toda força do mundo pra lutar pelo que eu queria: um nascimento maricotístico saudável.


 .
Então eis que você deu seus primeiros sinais de chagada chegadorada:
Fui dormir razoavelmente cedo naquele dia 9 de dezembro, pois sabia que o sono seria interrompido no meio, como já era de costume, e de fato não só acordei pra fazer xixi (sua estadia no meu útero era uma mijação sem fim pra mim!), como, às 4h em ponto (sim, olhei o relógio), me veio a primeira contração pré-trabalho de parto.
Depois de algumas, resolvi chamar a minha mãe, pois estava com muita fome e me levantar pra arranjar comida estava um pouco difícil. Ela, como o esperado, ficou toda preocupada, achando que já iríamos naquela manhã mesmo pra maternidade, então tive que freia-la um pouco. Tentei voltar a dormir, mas aquelas cólicas irregulares não me permitiram.
Às vezes durando 30 segundos, outras 1 minuto e meio, em intervalos que variavam entre 3 e 40 minutos, assim passei o dia 10 inteiro.

Avisei a Aláya pela manhã, e ela, claro, já ficou toda empolgada! Me passou uma lista de “o que fazer no fim da gravidez” e tudo, não contando que aquilo duraria bem menos tempo do que imaginávamos. Já no início da noite as dores foram ficando mais e mais intensas.

Eu, ainda me mantendo tranquilona, entrei no facebook e fiquei conversando no chat, tentando me distrair mesmo. Tive a ideia (ótima, por sinal) de já avisar a Lílian, uma amiga enfermeira obstetra, caso ela quisesse me acompanhar no parto. Ela topou e foi uma mão fundamental no processo! (Toda linda ela!)
Sentada na frente do computador, percebo que comecei a vazar. “Opa, isso aqui não é xixi não!”. Avisei a dona Carmen (que, óbvio, já estava em torpor) e a nossa doula. Por fim, a partir daí, comprei a passagem direta pra PARTOLÂNDIA.

As dores aumentaram rapidamente, então resolvi tomar um banho quente pra dar uma acalmada. Mãezinha do lado cronometrando as contrações, que se espaçavam entre 3 e 5 minutos . Ainda deu tempo de ligar pra Aláya, mas já não estava em mim quando ela chegou aqui em casa.
Lembro de cheiros gostosos, iluminação fraca, uma aliviante compressa quente na barriga e massagens gostosas nos momentos maiores de dor. Como já tinha ensaiado, não segurei nem um pouco os gemidos.
Com a tensão aumentando, fui tentando várias posições, mas nada adiantava muito não, e, bem, era assim que tinha que ser mesmo, né?!
Sentia tudo se abrindo dentro de mim com muita força, e quando percebi que já estava difícil suportar, falei em ir logo pra Casa de Parto. Esperamos a Lílian bonita chegar e pumba, já era hora de correr!

Ao me levantar da cama senti pela primeira vez a necessidade de fazer força... A monstrinha estava mesmo chegando muito perto! Passei o caminho todo com a cabeça deitada no colo da Aláya, as pernas empurrando a porta e berrando loucamente. Juro procê, minha filha, achei que não ia mais conseguir! Nesse momento só via estrelinhas e lembro de ouvir algo como “você já quer me matar por ter te dado essa ideia, Luana?” seguida pela minha resposta automática “SIM!!!”. Ainda não sei se isso só passou pela minha cabecinha ou se existiu esse diálogo mesmo! Hahahaha...

Você, eu, Aláya e vovó
Pousando na maternidade, só tirei rápido a roupa e deitei na cama. A Lílian falou que precisava medir a dilatação, mas eu, em outro mundo, só queria ficar na minha. Ela insistiu e eu finalmente deixei: “Colo apagado, já dá até sentir a cabecinha!”. Foi a primeira emoção da madrugada!
As enfermeiras falaram que seria mais fácil pra mim se eu sentasse no banquinho de cócoras, e sem nem conseguir pensar muito, resolvi tentar.  A Aláya apoiando as minhas costas, minha mãe apoiando as dela. “Empurra e lembre-se de que essa é uma contração a menos pra você!”, “olha, ela é cabeluda!”, “você consegue, está sendo muito forte!” era o que eu ouvia, e mesmo achando naqueles instantes que eu não aguentaria, essas palavras me enchiam de esperança...  dá-lhe euzona, empurrando e empurrando!

*POFT* - E às 3:55 da madrugada do dia 11 de dezembro vem uma coisa gosmenta em cima de mim.
“Cara, cara, caaaara!!! É A MINHA FILHA! ELA NASCEU, CARA!!! A MINHA FILHA NASCEU!!!”

O "imprinting"
Aquilo foi completamente inexplicável, Anandita! Era... Era... AMOOOOORRR!!!
Te segurei sem medo, mesmo você estando escorregadia e, com algumas manobras bebezísticas, finalmente consegui ver seu rostinho perfeito!
Quando dei por mim, já estava na cama novamente, e você, simplesmente maravilhosa, estava fitando meus olhinhos. Ficamos mais ou menos uma hora nessa, enquanto eu terminava de expelir a placenta. Você fazia os típicos movimentos desajeitados e eu lá, babando loucamente!
Foi muita felicidade! MUITA MESMO!!! E por isso não poderia te chamar de outra coisa senão Ananda - do sânscrito: felicidade, alegria, bem aventurança. Foi muito amor, meu pedaço de alegria, tipo TODO AMOR DO MUNDO!


Lá estava a Luana vitoriosa segurando sua cria. Nunca imaginei que seria tudo tão demais...
Lá estava você, Dona Maricotas, que chegou já chegada, ahazando e brilhando!
.
E essa foi só a primeira batalha ganha por nós duas! Não vejo a hora de ganhar todas as outras!
Ainda tenho muito o que viver e aprender contigo. E você, delícia, pode ter certeza que contará comigo pra absolutamente tudo que for possível.
E que comece a feliz jornada de nós duas!

Com todo o amor do mundo,
Mamãe.


domingo, 9 de dezembro de 2012

Nove meses

Por nove meses aprendi a ser duas, sendo essa uma que eu nunca tinha sido. Lembro de todo o medo que me assombrava, antes de tudo acontecer, com a simples ideia de, algum dia, ser dividida, multiplicada ou seja lá o que fosse. Um segredo que com certeza nunca foi nem será secreto: mamãe sempre teve pânico de crianças! Pra falar a verdade, cá estou eu, com um bebê remexendo na minha barriga, prestes a sair, e ainda com pavor de "quebrar" um ser humano frágil. Mas calma, calma! Eu não tenho medo de você, eu tenho medo de quebrar você, de entortar você, de estragar você... E eu sei que isso passa!

Nove meses e uma história toda pela frente. Tento me sentir pronta pra sua chegada, mas isso parece impossível... Tudo que tem a ver com você está recheado de surpresas e descobertas! Os primeiros chutes vieram com risadas, as lágrimas com aprendizados e cada mudança, no meu corpo e no seu, com sustos. Pessoas têm essa mania de dizer que você precisa que saber isso ou aquilo, mas olha, te dizer que tudo que você  for aprendendo ao longo de sua vida vai te preparando aos poucos pros próximos passos, então não se sinta pressionada, afinal, simplesmente não adianta!

Nove fucking meses, cara! É assustador olhar no espelho e ver a clara diferença de quem eu era e quem eu sou. Sabe esse clichê de que ser mãe muda tudo? Poisé, é verdade! Não que eu ache que todas as mulheres devem passar por isso. Não MESMO! Hoje tenho a certeza de que, se eu não tivesse todos os privilégios que me rodeiam, essa experiência poderia ser a pior coisa a me acontecer. Mas não foi o caso. Não foi nada nem perto disso. Foi bizarramente transformador. Foi transformadoramente bom. E foi... simples assim.

E então, com nove meses nessa espera, acordo te procurando, esquecendo por alguns segundos que você ainda não saiu de mim. É estranha essa sensação de que você ainda não veio ao mundo... Não faz sentido! Meu sono (a falta dele) me diz que você já precisa de mim, meus sonhos vêm com seu rosto estampado... Mas aí que você não está! É ansiedade demais nessa vida! Vamos combinar, eu sei que meu útero deve ser muito demais, mas, poxa, sai!
Andam dizendo que sentirei muita saudade de você na minha pança. Não duvido nem um pouco. Mas a ideia de morder sua bochecha ainda me parece mais apetitosa do que te ter aqui dentro nesse momento. Então vem, monstrenga, VEM!

Nove meses. Muito amor. E agora, Dona Maricotas, o que será?

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Sobre cócegas, chutes e risadas

Lá pela décima oitava semana comecei a sentir você mexendo. Confesso que, no início, era muito difícil distinguir você dos gases abdominais (que se tornaram MUITO abundantes desde a sua existência), mas com um pouco de concentração, pá, eu percebia os claros movimentos dona-maricotísticos. Com o tempo, eles foram se tornando ainda mais óbvios, até que começaram a me fazer cócegas. Sim, todos os últimos dias da minha vida estiveram recheados de risadas, às vezes não por pura alegria, mas por remelexos intra-uterinos que irremediavelmente fazem eu me contorcer. É, isso é divertido! Até o tal, quando põe a mão na minha pança, te sente e ainda vê minha reação aos seus chutes e socos, também acaba soltando um sorriso gostoso!

É assim que está começando nossa relação ativa. Cutucadas de amor à lá facebook! Até admito que te cutuco de volta só pra você me cutucar de novo!
E são essas bobices que me trazem de volta. É quando você se mostra viva que eu lembro de estar junto com você. Tenho até a impressão que faz isso de propósito, sabe?!, dançando com mais afinco quando a minha dor está mais forte ou quando eu quero desistir.
Então canto e rebolo pra você, torcendo pra que sinta a felicidade, tantas vezes apagada num furacão de emoções, que me abraça nessas horas. Eu aposto que funciona! Aposto que você sabe o quanto me faz bem! Aposto que sente as risadas que me proporciona a cada espasmo muscular!

Então mexa, dance e viva e me lembre que eu posso ser alegre! Chute, soque e soluce... E meu amor só vai crescendo como você! =]

Com amor.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Como tudo começou

Então, resolvi fazer esse blog não só pra mim, mas pra você, Dona Maricotas, saber como foi sua vida mesmo antes mesmo da sua primeira respiração fora da minha pancinha. Ah sim, espero não te chatear com isso, mas decidi por agora me referir a você como elA, ainda sabendo que quem escolherá seu gênero será você mesma... Acho que não tem problemas, né?! Você deve saber que a mamãe sempre irá respeitar suas opções pessoais!
Olha só eu te esperando há 5 meses!

Começo dizendo que escolher te deixar nascer não foi fácil. Hoje, aos 6 meses de vida intra-uterina (27 semanas, pra ser específica), você já é completamente querida, mas te digo que não foi sempre assim...
Primeiro de tudo: eu sou muito nova. Tá certo, com 25 anos não se é mais adolescente!, mas no meu caso, sem um diploma, um emprego e um plano concreto de vida, sim, posso dizer que estava nova demais pra sequer pensar nisso! Segundo, pesou o fato de que eu nunca curti a ideia de ter filhes. Achava que, pra isso, era necessária uma auto-anulação que eu não acreditava estar disposta a pagar e, além disso, tenho medo de crianças - sim, ainda tenho, mas, agora vendo de um diferente ângulo, com você eu poderei expor meus limites, te explicar o que acho que deve ser explicado e tudo isso sem medo de uma repressão de autoridade, entende?! Agora a cria será minha! E quanto à parte da auto-anulação, isso ainda é algo que me apavora, mas a imagem do seu rostinho sorridente costuma me acalmar um bocado quando a coisa aperta.

Tá, e quando foi que esse medo se tornou menor do que a vontade de te ter?
Não sei dizer exatamente... só sei que foi menos de duas semanas após saber da sua existência.

O lance é que eu já estava bem confusa por conta de outros fatores naquela época. Tinha acabado de terminar um namoro de uma forma horrorosa com um cara que eu infelizmente amava muito (seu pai), e foi simplesmente devastador. Foi, não, ainda está sendo. Sei que isso não faz nada bem pra sua saúde, mas a verdade é que essa decepção amorosa me deixou destruída! Estou tendo que lidar com uma vida inteira de medo do abandono, do descaso, de deslealdade...

Anyway, tudo começou numa bela sexta-feira, 6 de abril se não me engano, em que acordei blérg. Estava com uma leve ressaca, me sentindo mal pela noite anterior (noite aquela em que se conclui que pisar fora de casa foi a pior decisão), mas tomei um banho e resolvi sair de novo, já que a linda da tia Patinha tava em Brasília. Estávamos as duas conversando sobre as nossas dores no coração quando, já com algumas cervejas na cabeça, percebi que de fato tinha algo estranho com o meu corpo, e de acordo com as minhas não-muito-exatas contas, minha menstruação estava atrasada. Fiquei um pouco preocupada, mas tentei relaxar, afinal tinha tomado a pílula do dia seguinte e é normal ela dar uma bagunçada nas coisas, né?! O problema é que, no meio da madrugada, depois de algumas vodkas, a coisa foi batendo cada vez com mais força. Liguei pro tal ex e pedi por uma conversa. A ideia era que, já que as chances daquilo também ser "culpa" dele eram grandes, ele seria a melhor pessoa pra me acompanhar num intencionado "aliviador" exame.
Viramos a noite nesse papo e decidimos que faríamos logo o de sangue, mas como eu tenho pânico de veia, acabei enrolando por alguns dias e não fui fazer o bendito. Só na quarta-feira da semana seguinte que tomei forças, mas foi da pior forma possível: depois de uma deprimente briga com o dito-cujo. Sozinha e arrasada comprei um teste de farmácia.
Positivo em menos de cinco segundos. Quando vi as duas linhas rosas, minha vontade era gritar, mas apenas lacrimejei. Avisei a sua vó e pedi pra que ela comprasse mais exames, pois aquilo TINHA que estar errado! Mandei mensagem pro tal, e ela foi ignorada. Mais tarde liguei pra amada tia Pops e pro tio Fred e marquei um barzinho pra espairecer e desabafar. Tentava negar a realidade, mas ela estava mais do que clara ali. No dia seguinte acordei e já fui direto pro banheiro fazer o outro teste que minha mãe tinha comprado, e o resultado saiu tão rápido quanto o do dia anterior. Eu estava mesmo prenha, e agora?
O bonitinho não atendia as minhas ligações e o jeito era fazer o exame de sangue acompanhada da minha mãe mesmo. O resultado sairia algumas horas depois. Já lá pelas 21h, eis que a belezura me liga e resolve conversar comigo de novo. Ele queria ver o resultado, mas como eu só poderia pegá-lo pela internet e ele não tinha acesso na casa dele, o trouxe pra cá e vimos juntos. Positivíssimo.

Provavelmente levados pela emoção do momento, decidimos naquela hora que deveríamos ficar juntos e resolver o que seria feito. Ele claramente queria o aborto, mas na minha cabeça a coisa estava mais confusa do que nunca. Não estava preparada pra ser mãe, menos ainda pra abrir mão da nova vida que me era apresentada. Foi naquela noite de quinta que me veio pela primeira vez à cabeça a sua risada.

Os dias foram passando, os problemas de relacionamento com o tal foram nos sufocando, o pavor da responsabilidade foi me tirando o sono, mas ainda assim eu me sentia cada vez mais propensa a escolher por você, mesmo percebendo que teria que lidar com isso sozinha (ok, nem tão sozinha, pois dona Carmen fez questão de mostrar que estaria ao meu lado o tempo todo). E então foi dito e feito, quando decidi de vez que você ficaria, contei pra ele, que depois de mais uma discussão foi embora. Naquela mesma noite toquei minha barriga e finalmente me senti acompanhada.

E foi assim, minha garotinha, uma coisa meio sem pé nem cabeça, que eu notei que minha vida já tinha virado do avesso. Não existe arrependimento, pois como já disse aqui, hoje você JÁ É minha bebê amada. Desde então vivo uma montanha-russa emocional, com dias de breu e outros de luz.
Peço desculpas por tantos momentos que nos expus à dor, mas entenda que ainda estou no processo de virar duas. Sei que nessa jornada já fiz escolhas ruins, e te dou certeza que farei muito mais pelos próximos anos, mas saiba que, por mais que algumas dúvidas ainda me tomem, a certeza que te quero bem não me deixa nem por um segundo!

Com amor,
Mamãe.