segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

C.H.E.G.O.U C.H.E.G.A.N.D.O



Chegou. Chegou chegando chegadoramente... E simplesmente AHAZOU, minha filha!

Le gatínea

Sabe, no dia 9 de dezembro fiz o post “nove meses”, pois finalmente me sentia totalmente preparada pra te receber. Foram realmente muitas mudanças, algumas bruscas, outras suaves, mas sempre positivas. Minha mente já estava em paz e eu sabia que faria de mim mesma a melhor coisa possível pra você.
Mas antes de contar a sua linda chegada chegadícia, vou voltar um pouquinho no tempo, falando sobre quando eu comecei a preparação do “como” você viria:
No início estava completamente perdida, mas por muita sorte, logo me indicaram uma doula (a linda Arix ganha créditos aqui), e a partir daí meu mundo se abriu! Eu estava com apenas 20 semanas de gestação quando marquei um encontro na pizzaria com a Aláya. De cara nos entendemos e ela já foi me explicando parte do longo processo “saia da matrix obstétrica”.

E então você se pergunta: “como assim matrix?”. Pra minha desalegria, Ananda, vivemos num país que simplesmente esqueceu – ou preferiu deixar de lado – o fato de que o parto é um momento da mulher e do bebê.  A maioria dos nossos médicos obstetras tenta nos convencer, infelizmente com bastante sucesso, de que nós, fêmeas humanas, não temos mais a capacidade de parir, de que somos fracas. Por conta de um sistema machista e capitalista, nos tiraram o direito à informação, e quando ainda assim ela vem - graças aos lindos trabalhos que doulas, parteiras e alguns poucos médicos humanizados fazem -, esses outros profissionais nada legais tentam minar a nossa autoconfiança, nos chamando de irresponsáveis e sonhadoras por simplesmente querermos deixar o nosso corpo funcionar naturalmente.

Logo que descobri que estava grávida, marquei uma consulta com a minha ginecologista de sempre. Durante a minha adolescência, ela era um doce comigo, mas com o tempo fui notando que a nossa “incompatibilidade ideológica” estava deixando a nossa comunicação meio truncada. Ao saber do meu quadro de depressão, ela não só me disse que isso era *falta de deus*, como tentou culpar a minha não crença nele por tanto sofrimento. Quando o assunto foi gestação, as coisas só pioraram! Apesar de eu estar com 25 anos na época, ela deixava claro o seu espanto por eu não ser casada, e eu sentia em seu discurso uma tentativa de te tratar como punição pros meus atos libidinosos.
Minha última consulta com ela foi marcada com muita indignação:
- Estou lendo a respeito de parto natural e acho que quero isso.
- E o que você acha que é parto natural, criança? (Ela me chamava assim... o que me irritava um bocado)
- Bom, seria um parto sem intervenções.
- Ah, você está falando daquela coisa anti-higiênica de parto na água e etc?
- ... Sim, e sem medicamentos, com doula, no momento que o bebê quiser vir e tal. Pensei na Casa de Parto.
- Não acho que seja uma boa ideia! Lá não tem médicos! E essa coisa de banheira, você por acaso sabia que sai cocô nessa hora? É muito risco pra você e pro bebê!
- Ainda assim quero tentar! (Mamãe aqui já tinha lido o suficiente pra saber que essa coisa de “anti-higiênico” não fazia o MENOR sentido!)
- Menina, deixa de ser irresponsável! Não vou participar disso! Você não sabe o que está dizendo!
- ...
- O que você quer que eu faça então? Não tenho função alguma aqui, né?!
- Bem, planejava continuar com o pré-natal. Acho importante saber como vai a saúde do meu bebê, oras!
- Ah, sim, claro... Pura imaturidade da sua parte, mas fazer o quê, né?! Já vi que não vou te convencer!
E foi com essa linda discussão que, graçazadels, resolvi que não pisaria mais lá!

Depois disso resolvi arriscar o tão temido SUS. Cheguei cheia de receios, mas tirando a parte das enfermeiras cristãs (que falavam barbaridades sobre como as mulheres deveriam se comportar diante dos seus maridos e coisas bobas do tipo), foi tudo uma maravilha! Marquei consulta com a dra. Simone, e essa médica foi APENAS incrível! De cara já sanou minhas intermináveis dúvidas, ao saber dos meus planos de parto, apoiou com afinco... Ou seja, tudo que eu queria e precisava e mais um pouco! O problema: ela não teria como fazer meu parto, já que só trabalhava na rede pública e por isso não estaria disponível quando você resolvesse nascer.

última semaninha de prenhice
Nessa época eu já frequentava o grupo de gestantes do HUB, e lá ouvia várias dicas ótimas de partos humanizados, além de exercícios pra gestantes, coisas sobre amamentação e etc. Foi fácil então decidir que eu precisava me empoderar, fazer tudo do nosso jeitinho...

As semanas foram passando e eu, cada dia mais segura. A Casa de Parto já tinha se transformado no plano A e nem uma hidronefrose me fez desistir disso! Mesmo com todo o caos mental que me engolia, pude notar que tinha muita gente delícia ao meu lado, e isso, principalmente no fim da gravidez, me fez ter toda força do mundo pra lutar pelo que eu queria: um nascimento maricotístico saudável.


 .
Então eis que você deu seus primeiros sinais de chagada chegadorada:
Fui dormir razoavelmente cedo naquele dia 9 de dezembro, pois sabia que o sono seria interrompido no meio, como já era de costume, e de fato não só acordei pra fazer xixi (sua estadia no meu útero era uma mijação sem fim pra mim!), como, às 4h em ponto (sim, olhei o relógio), me veio a primeira contração pré-trabalho de parto.
Depois de algumas, resolvi chamar a minha mãe, pois estava com muita fome e me levantar pra arranjar comida estava um pouco difícil. Ela, como o esperado, ficou toda preocupada, achando que já iríamos naquela manhã mesmo pra maternidade, então tive que freia-la um pouco. Tentei voltar a dormir, mas aquelas cólicas irregulares não me permitiram.
Às vezes durando 30 segundos, outras 1 minuto e meio, em intervalos que variavam entre 3 e 40 minutos, assim passei o dia 10 inteiro.

Avisei a Aláya pela manhã, e ela, claro, já ficou toda empolgada! Me passou uma lista de “o que fazer no fim da gravidez” e tudo, não contando que aquilo duraria bem menos tempo do que imaginávamos. Já no início da noite as dores foram ficando mais e mais intensas.

Eu, ainda me mantendo tranquilona, entrei no facebook e fiquei conversando no chat, tentando me distrair mesmo. Tive a ideia (ótima, por sinal) de já avisar a Lílian, uma amiga enfermeira obstetra, caso ela quisesse me acompanhar no parto. Ela topou e foi uma mão fundamental no processo! (Toda linda ela!)
Sentada na frente do computador, percebo que comecei a vazar. “Opa, isso aqui não é xixi não!”. Avisei a dona Carmen (que, óbvio, já estava em torpor) e a nossa doula. Por fim, a partir daí, comprei a passagem direta pra PARTOLÂNDIA.

As dores aumentaram rapidamente, então resolvi tomar um banho quente pra dar uma acalmada. Mãezinha do lado cronometrando as contrações, que se espaçavam entre 3 e 5 minutos . Ainda deu tempo de ligar pra Aláya, mas já não estava em mim quando ela chegou aqui em casa.
Lembro de cheiros gostosos, iluminação fraca, uma aliviante compressa quente na barriga e massagens gostosas nos momentos maiores de dor. Como já tinha ensaiado, não segurei nem um pouco os gemidos.
Com a tensão aumentando, fui tentando várias posições, mas nada adiantava muito não, e, bem, era assim que tinha que ser mesmo, né?!
Sentia tudo se abrindo dentro de mim com muita força, e quando percebi que já estava difícil suportar, falei em ir logo pra Casa de Parto. Esperamos a Lílian bonita chegar e pumba, já era hora de correr!

Ao me levantar da cama senti pela primeira vez a necessidade de fazer força... A monstrinha estava mesmo chegando muito perto! Passei o caminho todo com a cabeça deitada no colo da Aláya, as pernas empurrando a porta e berrando loucamente. Juro procê, minha filha, achei que não ia mais conseguir! Nesse momento só via estrelinhas e lembro de ouvir algo como “você já quer me matar por ter te dado essa ideia, Luana?” seguida pela minha resposta automática “SIM!!!”. Ainda não sei se isso só passou pela minha cabecinha ou se existiu esse diálogo mesmo! Hahahaha...

Você, eu, Aláya e vovó
Pousando na maternidade, só tirei rápido a roupa e deitei na cama. A Lílian falou que precisava medir a dilatação, mas eu, em outro mundo, só queria ficar na minha. Ela insistiu e eu finalmente deixei: “Colo apagado, já dá até sentir a cabecinha!”. Foi a primeira emoção da madrugada!
As enfermeiras falaram que seria mais fácil pra mim se eu sentasse no banquinho de cócoras, e sem nem conseguir pensar muito, resolvi tentar.  A Aláya apoiando as minhas costas, minha mãe apoiando as dela. “Empurra e lembre-se de que essa é uma contração a menos pra você!”, “olha, ela é cabeluda!”, “você consegue, está sendo muito forte!” era o que eu ouvia, e mesmo achando naqueles instantes que eu não aguentaria, essas palavras me enchiam de esperança...  dá-lhe euzona, empurrando e empurrando!

*POFT* - E às 3:55 da madrugada do dia 11 de dezembro vem uma coisa gosmenta em cima de mim.
“Cara, cara, caaaara!!! É A MINHA FILHA! ELA NASCEU, CARA!!! A MINHA FILHA NASCEU!!!”

O "imprinting"
Aquilo foi completamente inexplicável, Anandita! Era... Era... AMOOOOORRR!!!
Te segurei sem medo, mesmo você estando escorregadia e, com algumas manobras bebezísticas, finalmente consegui ver seu rostinho perfeito!
Quando dei por mim, já estava na cama novamente, e você, simplesmente maravilhosa, estava fitando meus olhinhos. Ficamos mais ou menos uma hora nessa, enquanto eu terminava de expelir a placenta. Você fazia os típicos movimentos desajeitados e eu lá, babando loucamente!
Foi muita felicidade! MUITA MESMO!!! E por isso não poderia te chamar de outra coisa senão Ananda - do sânscrito: felicidade, alegria, bem aventurança. Foi muito amor, meu pedaço de alegria, tipo TODO AMOR DO MUNDO!


Lá estava a Luana vitoriosa segurando sua cria. Nunca imaginei que seria tudo tão demais...
Lá estava você, Dona Maricotas, que chegou já chegada, ahazando e brilhando!
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E essa foi só a primeira batalha ganha por nós duas! Não vejo a hora de ganhar todas as outras!
Ainda tenho muito o que viver e aprender contigo. E você, delícia, pode ter certeza que contará comigo pra absolutamente tudo que for possível.
E que comece a feliz jornada de nós duas!

Com todo o amor do mundo,
Mamãe.


domingo, 9 de dezembro de 2012

Nove meses

Por nove meses aprendi a ser duas, sendo essa uma que eu nunca tinha sido. Lembro de todo o medo que me assombrava, antes de tudo acontecer, com a simples ideia de, algum dia, ser dividida, multiplicada ou seja lá o que fosse. Um segredo que com certeza nunca foi nem será secreto: mamãe sempre teve pânico de crianças! Pra falar a verdade, cá estou eu, com um bebê remexendo na minha barriga, prestes a sair, e ainda com pavor de "quebrar" um ser humano frágil. Mas calma, calma! Eu não tenho medo de você, eu tenho medo de quebrar você, de entortar você, de estragar você... E eu sei que isso passa!

Nove meses e uma história toda pela frente. Tento me sentir pronta pra sua chegada, mas isso parece impossível... Tudo que tem a ver com você está recheado de surpresas e descobertas! Os primeiros chutes vieram com risadas, as lágrimas com aprendizados e cada mudança, no meu corpo e no seu, com sustos. Pessoas têm essa mania de dizer que você precisa que saber isso ou aquilo, mas olha, te dizer que tudo que você  for aprendendo ao longo de sua vida vai te preparando aos poucos pros próximos passos, então não se sinta pressionada, afinal, simplesmente não adianta!

Nove fucking meses, cara! É assustador olhar no espelho e ver a clara diferença de quem eu era e quem eu sou. Sabe esse clichê de que ser mãe muda tudo? Poisé, é verdade! Não que eu ache que todas as mulheres devem passar por isso. Não MESMO! Hoje tenho a certeza de que, se eu não tivesse todos os privilégios que me rodeiam, essa experiência poderia ser a pior coisa a me acontecer. Mas não foi o caso. Não foi nada nem perto disso. Foi bizarramente transformador. Foi transformadoramente bom. E foi... simples assim.

E então, com nove meses nessa espera, acordo te procurando, esquecendo por alguns segundos que você ainda não saiu de mim. É estranha essa sensação de que você ainda não veio ao mundo... Não faz sentido! Meu sono (a falta dele) me diz que você já precisa de mim, meus sonhos vêm com seu rosto estampado... Mas aí que você não está! É ansiedade demais nessa vida! Vamos combinar, eu sei que meu útero deve ser muito demais, mas, poxa, sai!
Andam dizendo que sentirei muita saudade de você na minha pança. Não duvido nem um pouco. Mas a ideia de morder sua bochecha ainda me parece mais apetitosa do que te ter aqui dentro nesse momento. Então vem, monstrenga, VEM!

Nove meses. Muito amor. E agora, Dona Maricotas, o que será?